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Projeto lança barcos movidos a hidrogênio verde
Grupo de empresas no Brasil se junta para o desenvolvimento e produção de embarcações movidas a hidrogênio verde, com investimentos de R$ 150 milhões
10 de fev. de 2025
Um grupo de empresas no Brasil se juntou para o desenvolvimento e construção de embarcações movidas a hidrogênio verde, que visam a reduzir de forma significativa as emissões de gases poluentes. O projeto é encabeçado pelo Parque Tecnológico Itaipu (Itaipu Parquetec), centro referência na produção do combustível sustentável no Brasil, e a JAQ Apoio Marítimo, unidade de negócios do Grupo Náutica, criada em 2021. O programa engloba duas embarcações, sendo que uma delas vai ser apresentada na COP30.
Ao Valor, Ernani Paciornik, presidente do conselho da JAQ e CEO do Grupo Náutica, disse que o projeto vai contar com investimentos da ordem de R$ 150 milhões, dos quais um terço vindo de financiamento próprio. “Encontramos o parceiro ideal e juntamos os conhecimentos náutico e de navegação com o deles em hidrogênio.”
“Essa vai ser uma solução para o nosso país, que já fez os carros movidos a álcool há 30 anos. O etanol é mais limpo que a própria bateria e é coisa do Brasil”, disse o executivo. As conversas para a produção dos barcos se iniciaram em 2023 e o acordo foi assinado no fim de 2024.
A iniciativa consiste na adaptação das embarcações Explorer H1 e Explorer H2 para operar 100% com hidrogênio verde. Os dois barcos eram usados para transportar trabalhadores para plataformas de petróleo e foram comprados pelo Grupo Náutica. As embarcações vão contar com eletrolisadores (dispositivos que quebram moléculas de água em hidrogênio e oxigênio através de eletricidade) a bordo, produzindo o produto 100% verde para a célula de combustível que irá gerar energia para o barco.
Segundo dados da Organização Marítima Internacional (IMO), a participação do transporte marítimo nas emissões globais aumentou de 2,76% em 2012 para 2,89% em 2018. Atualmente, o hidrogênio não é usado por navios oceânicos - apenas para poucas embarcações costeiras. Mas a tecnologia é considerada como combustível do futuro para o modal.
Outras indústrias também estudam o hidrogênio verde, como a aviação, que estima já ter as primeiras soluções de propulsão em meados de 2035. O desafio do setor, globalmente, é encontrar formas de armazená-lo.
“Essa tecnologia é algo que pode mudar um dos modais mais poluentes hoje”, disse. “O gol do projeto é mostrar ao planeta que esse tipo de solução existe e que estamos evoluindo”, acrescentou.
A embarcação Explorer H1 será apresentada na COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em novembro, em Belém (PA). Com 36 metros de comprimento (118 pés), o barco atualmente possui sistema de hidrojatos da marca Doen para navegação em águas rasas e está localizado no Estaleiro INACE, em Fortaleza (CE).
Já no ano que vem, o plano do grupo é entregar a Explorer H2, com 50 metros de comprimento (164 pés). Esta embarcação vai usar um motor fabricado pela marca MAN, importado da Alemanha e que funciona tanto com diesel quanto hidrogênio. Ao usar apenas 20% de hidrogênio, essa embarcação já vai conseguir reduzir suas emissões em 80%.
Instalar os eletrolisadores nos barcos visa a trazer autonomia às embarcações caso estejam em lugares sem a possibilidade de serem abastecidas de hidrogênio. O motor híbrido na segunda versão traz a possibilidade de se usar também o diesel - embora tenha capacidade de operar 100% com hidrogênio.
Atualmente, o hidrogênio é majoritariamente produzido tendo como base energia fóssil, principalmente gás natural. Mas há outras formas menos poluentes: eletrólise (usando eletricidade renovável), produção direta de hidrogênio solar, fermentação de biomassa e conversão termoquímica de biomassa.
O diretor de negócios e empreendedorismo do Itaipu Parquetec, Eduardo de Miranda, destacou que a empresa trabalha no segmento de hidrogênio de baixa emissão de carbono há mais de 10 anos. “Temos uma planta laboratório que produz hidrogênio verde (por meio da eletrólise) e fazemos diversas aplicações”, disse o executivo.
Segundo um estudo da Agência Europeia de Segurança Marítima de 2023, a eletrólise é considerada o caminho mais adequado para se produzir esse insumo que é fonte de energia limpa, uma vez que a técnica promove a divisão de água pura usando eletricidade renovável.
O estudo destaca que hoje a produção global de hidrogênio verde é inferior a 0,1 milhão de toneladas por ano. Na contramão, a estimativa é que a demanda global de energia para o transporte marítimo internacional seja de aproximadamente 95 milhões de toneladas de hidrogênio ao ano até 2040.
Paciornik contou que, após o desenvolvimento, ambas as embarcações devem rodar rios e costa brasileiros e serão transformadas em laboratórios flutuantes, salas de aula e plataformas tecnológicas para fomentar a pesquisa, a educação ambiental e a preservação dos biomas brasileiros.